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"OS MENINOS DA RUA BETO"

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segunda-feira, 14 de julho de 2014

O caminhãozinho do Porpeta

Trecho do livro Os meninos da Rua Beto

Janeiro de 1960

          Morava lá no bairro um jovem de origem italiana que atendia pelo apelido de Porpeta. Certa vez ele comprou um caminhãozinho Ford 38 em muito mau estado, e no dia seguinte, quando foi dar partida, constatou que o veículo não andava. Chamou então a molecada para empurrá-lo e fazê-lo pegar no tranco.
          Empurraram sem dificuldade, e assim conseguiram subir e descer a rua algumas vezes, com o caminhãozinho “pegando” e “morrendo” intermitentemente.
          Uma hora, quando estavam descendo, o Porpeta perdeu o breque! Para mal de seus pecados no fim da rua ficava um córrego, e foi lá mesmo que ele caiu.
          Esse córrego era estreito e raso, de maneira que apenas as rodas dianteiras mergulharam na água suja; o chassi ficou apoiado no barranco com as rodas traseiras no ar. O rapaz, que por sorte não tinha se machucado, pôde sair com facilidade.
          Aquele não era mesmo um dia promissor, porque ia passando uma viatura de polícia, e os policiais foram investigar aquele ajuntamento de gente. Não gostaram muito do que viram e requisitaram os documentos do veículo.
          Ora, o Porpeta era um rapaz honesto, e não hesitou em apresentar “os documentos”. Era um papel comum onde estava escrito, em letras de mão:
Este caminhão pertence ao Porpeta.
Assinado, Galocha.

          A polícia achou aquilo um tanto irregular e resolveu guinchar o veículo e levá-lo para as devidas averiguações. O Porpeta começava a ficar muitíssimo chateado com o rumo dos acontecimentos...
          Veio o guincho, mas não tiveram sucesso em retirar o caminhãozinho porque, onde quer que prendessem o gancho, na hora de arrastar só conseguiam arrancar o respectivo pedaço, de forma que na margem do córrego foram se empilhando partes e mais partes do infeliz veículo. O objeto mais volumoso de toda a pilha era o eixo junto com as rodas, porque o resto ficou totalmente fragmentado.
          O coitado do Porpeta ia assistindo à depenação do seu querido caminhãozinho e não podia fazer nada. Mas ninguém é de ferro: chegou uma hora em que ele não aguentou mais e começou a xingar, e a cada xingamento jogava alguma peça de volta no córrego. A molecada, solidária com o amigo, ajudava quando a peça era pesada demais.
          Nessas alturas a polícia desistiu de tomar outras providências, achando melhor ir embora e esquecer o assunto. Ficou lá o Porpeta, entulhando o córrego com sucatas e desabafando os seus mais íntimos sentimentos.
          Acabou-se o caminhãozinho. Em compensação, estava criado um verdadeiro parque de diversões, porque o córrego sendo raso permitia acesso a todas aquelas preciosidades: volante de direção, pneus, cabine, carroceria, etc.
          Durante um bom tempo aquele entulho ficou lá, para alegria geral da molecada.

Imagem: arquivo pessoal

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sei se é a mesma pessoa mais conheci o porpeta

Zulmira Carvalheiro disse...

Pode ser sim. Esse era o apelido verdadeiro dele. Quando essa historinha foi lida no rádio, em um programa que havia na extinta Rádio Eldorado, a irmã e a mãe do Porpeta se manifestaram, dizendo que o reconheceram. Infelizmente já é falecido.