Ouvi
barulho na minha porta e abri os olhos. Era o meu pai entrando no quarto. Sem
bater, como sempre. Já cansei de reclamar da falta de privacidade, nem falo
mais nada.
―
Dormindo de dia, Rita?
―
Não, pai. Tava lendo.
Mostrei
a capa do livro. Ele encostou-se ao armário e cruzou os braços, a cara
amarrada.
―
Olha aqui, Rita, já faz um ano que você se formou no colégio. Não dá mais pra
esperar, você tem que resolver a sua vida.
Conversa
chata. Quantas vezes já falamos sobre isso sem chegarmos a nenhuma conclusão?
―
Ainda não sei o que quero fazer, pai.
―
Então vai fazer qualquer coisa. Chega de ficar aí parada. Você vai sair hoje e
se matricular num cursinho. Ano que vem é faculdade, ou então não te sustento
mais.
Nó
na garganta. Olho cheio d’água. A voz tremeu ao responder:
―
Pai, o senhor tem dinheiro. Não precisa do meu salário.
―
Não é pelo dinheiro, é pela situação absurda. Todo mundo faz alguma coisa, você
só lê e ouve música. Já fez teste vocacional, agora vai cuidar da vida.
Falou
e saiu.
O
teste vocacional deu Agronomia. Nem sei o que é Agronomia. Meu Deus... E agora?
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