Naquela tarde abafada
daquele distante verão
nasceu uma cebola.
Cada cebola tem os seus atributos;
nada sei das outras cebolas,
mas esta é assim:
A camada externa parece ser doce
mas não é
(o sabor é azedo com notas picantes, e retrogosto amargo sobre um leve toque de mel).
(o sabor é azedo com notas picantes, e retrogosto amargo sobre um leve toque de mel).
Simula ser transparente
mas não é
(embora deixe toda a luz entrar, pouca luz deixa sair).
A seguir, uma camada feita de olhos.
Olhos por todos os lados.
Olhos que nunca piscam,
que tudo olham e nunca se cansam de olhar.
Abaixo dessa, vem a camada das perguntas.
Breves e demoradas,
fúteis e profundas,
algumas já obtiveram resposta;
a maioria permanecerá eternamente irrespondida.
A próxima é a camada das perplexidades.
Essa é a camada mais grossa,
repleta de perplexidades ásperas e suaves
(com alguns maravilhamentos
de permeio).
Depois vem o
núcleo da cebola:
um caroço aproximadamente
esférico
que pode ser
macio e pode ser duro
(alternadamente
ou ao mesmo tempo),
que pode ser
escuro e pode ser luminoso
(alternadamente
ou ao mesmo tempo),
que pode ser
quente e pode ser frio
(alternadamente
ou ao mesmo tempo),
e todas as
combinações imagináveis das possibilidades acima.
Por fim, no centro desse caroço,
lá onde ninguém jamais terá acesso,
existe uma coisa
que não se sabe o que é, nem o que foi, e nem o que virá a ser
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