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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Mariazinha e seus amores

Em um dos estágios que fiz durante o tempo da graduação conheci uma moça muito simpática chamada Mariazinha. Ela era apaixonada por um rapaz que veio do interior para estudar em São Paulo, mas era uma paixão meio sofrida porque o tal cara, José Carlos, tinha uma namorada firme na sua cidade de origem e não fazia segredo do fato. Para ele era muito natural ter uma moça de plantão lá no interior enquanto fazia os seus biscates por aqui.
Claro que a Mariazinha tinha esperanças de que o José mudasse de ideia, embora nada indicasse tal possibilidade.
Falando assim dá a impressão de que a minha colega era ignorante e simplória, mas na realidade ela era uma aluna brilhante, tinha sido criada em uma família respeitadíssima em sua cidade, era católica praticante, cozinhava muito bem e era notavelmente bonita.
Com tantos atributos, havia vários admiradores na fila de espera. O mais assíduo era o João Luiz, um rapazinho cá entre nós bastante sem graça (ele tinha o jeito desses meninos meio bobos que, apesar de crescidos, só andam na rua de mãos dadas com suas mamães).
Pois é, o João Luiz mandava flores, visitava, choramingava. Enquanto isso a Mariazinha arrastava o seu bonde pelo José, o qual usava e abusava (da Mariazinha, não do bonde) e não estava nem aí.
Um dia finalmente ela se convenceu de que não tinha chance. Com uma expressão bastante triste contou que, depois de uma conversa muito sincera com o José, resolveu colocar um fim naquela situação incerta. E acrescentou, com cara de sofredora:
"Já que eu nunca vou poder ser feliz, vou procurar fazer feliz outra pessoa!"
Bem estranho que uma garota de vinte e dois anos esteja convencida de que nunca na vida "vai ser feliz" (tradução: ter o homem desejado). Bem estranho também que se julgasse obrigada a "fazer outra pessoa feliz" (tradução: ceder ao assédio de outrem).
Agora, mais estranho ainda, foi ela ter selecionado o João Luiz como beneficiário desse auto-sacrifício. Suspeito que tal procedimento tenha algo a ver com as suas crenças religiosas, naquela parte que fala da caridade cristã...
Em todo caso, ela encarou o desafio com muita coragem, e numa segunda-feira chegou pra mim e disse que no dia anterior tinha saído com o João.
"Ah é?" perguntei fingindo grande interesse.
"E ele me beijou." disse ela fazendo uma cara de repugnância como se tivesse bebido água do Rio Tietê.
E prosseguiu:
"Foi horrível! Nunca senti tanto nojo em toda a minha vida!"
"Então para de sair com ele, ora!"
"Não! Já que eu nunca vou ser feliz na vida, vou fazer outra pessoa feliz."
Que estômago! Que coragem! Que auto-anulação! Que aviltamento!
Bem, cada um sabe de si e ninguém tem nada a ver com isso.
Ela continuou a namorar o sujeitinho, até que um dia apareceu toda sorridente:
"Descobri que estou apaixonada pelo João Luiz."
"Tem certeza?"
"Tenho! A mais completa certeza. É maravilhoso!"
Toda aquela repugnância havia se transformado em paixão avassaladora. E foi aquela loucura!
O rapazinho se transformou. Começou a andar de cabeça erguida, a voz até engrossou. Isso ia acontecendo enquanto a Mariazinha ficava cada vez mais dependente, mais anulada. Então começaram a ter problemas. Não demorou muito, ele declarou que não estava mais interessado em continuar aquela relação porque achava que eles não tinham nada a ver um com o outro.
Choro! Desespero! Chantagem emocional!
Nada fez o João Luiz voltar atrás. Mariazinha tornou-se chata, paranoica, chorona, briguenta. Não se conformava em ter sido usada e jogada fora.
Até que um dia, um pouco mais calma, declarou:
"Eu amo tanto o João Luiz que para não incomodá-lo mais sou capaz de deixar de amar."
"Como assim?!"
"É verdade! O meu amor é tão grande que por amor sou capaz de deixar de amar."
Nessas alturas perdi o contato com ela porque mudei de estágio, e, para falar a verdade, estava um tanto cansada de dar "apoio moral". Além do que, tinha os meus próprios problemas a resolver.
Meses depois a encontrei por acaso. Ela estava tranquila, sorridente e praticamente de volta ao normal.
Tinha se apaixonado perdidamente por um colega do curso de Inglês.



Imagem: http://www.mipasa.com

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